Acompanhando o Mercado

Um leilão de arte em Fortaleza

João Carlos Lopes dos Santos



Na noite de 20 de dezembro de 2000, na capital de São Paulo, o Vasco da Gama decidia a Copa Mercosul com o Palmeiras. O primeiro tempo terminou 3 a 0 para o Palmeiras, com o time do Vasco perdido em campo. A torcida palmeirense já comemorava a vitória no intervalo. Mas o defunto ainda estava quente e ressuscitou. Virou o jogo, fazendo um heroico 4 a 3 e o foi campeão. E eu, do alto da minha da experiência botafoguense, achando que já tinha visto de tudo...

Nunca é de bom alvitre menosprezar a competência alheia. A vida dá muitas voltas e tudo pode mudar num segundo, inclusive a nossa percepção sobre os outros. E aí, por via de consequência, os afoitos julgadores terão que testificar a própria incompetência.

Por outro lado, quando em excesso, a autoconfiança atrapalha. Só erramos quando não sabemos nada ou quando pensamos que sabemos tudo. Quando a situação está muito tranquila é que devemos redobrar a atenção. Jamais tropeçaremos nas pedras grandes, estas nós vemos de pronto, já nas pequenas...

Os antigos já diziam: ‘Não há mal que sempre dure, nem tampouco bem que nunca se acabe’. Diziam também:‘Dia de muito, véspera de pouco’. Ou, ainda: ‘Vivendo e aprendendo’.


Não era um plano, era um devaneio

Corria o ano de 1986 e os profissionais do mercado de arte saboreavam o seu ano de ouro, o ano do Plano Cruzado, época das vacas gordas, de juros bancários ridículos e de um furor consumista hoje inacreditável. Comprava-se de tudo e tanto compravam que faltavam mercadorias. O dinheiro sobrava no mercado de arte. Fora dele, tudo estava barato e com preços congelados por «decreto» governamental.

Já nos leilões de arte, mormente no eixo Rio-São Paulo se vendia de tudo e por preços astronômicos. Nos leilões não se pode congelar os preços, alguém levanta o dedo e decreta o descongelamento...

Já noutros mercados, por exemplo, um automóvel Volkswagen Santana, que era carro de bacana, custava 120 mil cruzados. Eu tinha dinheiro no Banco para comprar dois, mas não havia carro para vender. O ágio comia solto...


No Ceará tem disso, sim

Surgiu no mercado do Rio de Janeiro a notícia de um leilão de arte em Fortaleza. Estávamos no final do mês de novembro de 1986. Peguei um avião e fui ver como era um leilão de arte no Ceará. Os profissionais do mercado de arte pagavam viagens aéreas e hospedagens cinco estrelas, como se fosse um lanche no boteco da esquina. Como o dinheiro era fácil... Só não deu para enriquecer porque, se de um lado se vendia caro, do outro, a reposição do estoque era ainda mais dispendiosa.

Quem organizou o leilão foi o falecido estilista Gregório Faganello, em seu espaço na Aldeota - um misto de loja de roupas finas femininas e galeria de arte. Na noite do leilão, às 20h30m, o Jornal Nacional da TV Globo anunciou o Plano Cruzado-2. O leilão estava marcado para as 21 horas. Depois da má notícia, o leilão começou atrasado e com meia dúzia de gatos-pingados. Logicamente, foi um desastre. O brasileiro sempre fica de início impactado e, depois, cabreiro, desconfiado, quando recebe notícia de planos econômicos.

Ninguém poderia supor meia-hora antes que o mercado de arte fosse despencar e que só começaria a arribar três ou quatro anos depois, quando, em 1990, o Plano Collor – aquele que deixou todo mundo com 50 cruzados no bolso – viria a derrubar o mercado novamente.

Moral da história: há que se ter sempre em mente, como uma das possibilidades a serem ponderadas, que o mercado pode virar da noite para o dia.

 

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