Acompanhando o Mercado
O mercado de arte em tempos de conflito
João Carlos Lopes dos Santos
Após o ataque às ‘Torres Gêmeas’ de Nova York, no fatídico 11/9/2001, muitos me perguntaram, inclusive jornalistas: como ficaria o mercado de arte no Brasil?
Em épocas de convulsões sociais, guerras, crises econômicas e catástrofes, a procura por determinados ativos, como o ouro, outros metais nobres, pedras preciosas, investimentos imobiliários e obras de arte são privilegiados e, com a procura, os preços de tais ativos tendem a subir.
O bicho nunca é tão feio quanto parece
Embora não seja nenhum analista internacional, sou de opinião que, em caso de conflito no Hemisfério Norte, mesmo com o mundo totalmente globalizado, não ocasionará, aqui no Brasil, reflexos econômicos mais importantes do que, por exemplo, os ocasionados por problemas sociais crônicos, aqui já existentes.
Mesmo diante de uma hipotética terceira guerra mundial, o que se admite tão somente para argumentar, acredito que seus ecos chegariam brandos por aqui. Afinal, do início do Século XX para cá, sempre tivemos conflitos no outro hemisfério e nem nos demos conta disso. Desde os primórdios, esses conflitos, sempre setoriais, alimentaram a indústria bélica e serviram para testar a questionada hegemonia dos blocos de poder. Portanto, ocupe-se do problema, mas não se preocupe com ele.
E o mercado de arte brasileiro?
As obras de arte no Brasil estão ainda com preços muito convidativos. Há artistas em que vale à pena apostar. Entre eles, sempre surgem algumas novas revelações. Sem citar nomes, como é do meu feitio, lá fora há mercados que estão apostando em muitos de nossos artistas.
É certo que ninguém pode tomar decisões no olho do furacão, porém, assentada a poeira, será sempre o momento de se adquirir importantes obras de arte. Acredito no que afirmo, até porque os preços estão muito convidativos.
A experiência dos meus ininterruptos anos no mercado de arte me diz que, em quaisquer circunstâncias, quando se compra as melhores obras de arte de artistas plásticos importantes, a médio e longo prazo, não há riscos de se perder, como o comprova a história do mercado.
Ainda sem citar nomes e sem medo de errar, diria que o preço de mercado das telas de determinados artistas com projeção nacional, em média, tem aumentado acima da valorização do dólar. Esse raciocínio de dolarização passa pelo decurso de certo tempo. Obviamente, se o dólar dobrar da noite para o dia, decerto, não quer dizer que as obras de arte vão dobrar também. Quem é do mercado não terá dificuldade em endossar o que estou afirmando.
Sou de opinião, deixando de lado a sobredita possibilidade de valorização, que só deve investir nesse mercado quem tenha sensibilidade para arte. Digo isso porque o mercado de arte não propicia lucros imediatos. O investidor que ambiciona lucros rápidos, pronta liquidez e, por via de consequência, riscos na mesma proporção, deve dar prioridade a outros ativos.
Resumo tudo isso na melhor definição que conheço sobre arte de coleção: "Preto no branco: arte catalogada é investimento seguro, rentável e de liquidez assumida. Claro, descartado o dividendo espiritual da beleza da vida capturada na janela da fantasia pelo dom divino do artista iluminado. Arte na parede não é ouro no cofre nem dólar na moita. É raio de luz, valor que não tem preço. E o que não tem preço é sempre um artigo barato. No mundo inteiro é assim: arte é bem-de-raiz, reserva de valor, resseguro de crise, arrimo de família, ficha cadastral. E, de sobremesa, prestígio social." - Joelmir Beting (1936 – 2012), jornalista e sociólogo brasileiro.
O bambu chinês
Contudo, os resultados no mercado de arte têm muito a ver com o que escrevi na crônica "Aos desistentes, o bambu chinês", que está em "Crônicas do Cotidiano", em www.consultarte.com. Tudo na vida leva sempre certo tempo de crescimento e maturação e com os lucros do mercado de arte não poderia ser diferente. No mercado de arte, não se compra hoje para ganhar amanhã. Há obras que valorizam em cinco anos, outras em dez ou mais anos.
Modus faciendi
Em diversas oportunidades, tenho dito que uma coisa é decorar uma residência. Outra, bem diferente, é atender o mesmo objetivo, mas levando em conta a possibilidade de, no futuro, recuperar o desembolso com algum lucro. O investimento começa por aí.
Com ou sem crise, para investir em obras de arte, não tendo experiência no mercado, há que se contratar um profissional capacitado, o qual tomará, junto com você, mas em seu nome, uma série de precauções, tanto na aquisição quanto na conservação e, mormente, no acompanhamento da coleção, vale dizer, na substituição de quadros do acervo por outros melhores ou mais viés de valorização. A figura do consultor é importante, não para escolher o que o cliente vai comprar, mas sim para lhe falar de procedência, autenticidade, qualidade, do preço justo, onde aquela obra tem mercado, onde tem maior liquidez e tem alguma possibilidade de valorização.
Bens culturais bem comprados, independentemente de guerras e crises, é mais fácil de revender tempos depois e, também, é um dos raros objetos que se pode auferir lucro com a revenda.
Procuro sempre dissuadir as pessoas quando dizem: "Não compro quadro para vender, compro o que gosto e não me interessa a opinião dos outros". Concordo que se deva comprar só o que se gosta, seja qual for o seu valor, mas sempre em consonância com as normas do mercado, posto que, por isto ou por aquilo, chegará o dia em que haverá de se procurar um novo dono para aquela obra. Aí, nesse momento, a opinião dos outros sobre o que você comprou – e está vendendo... – será muito importante. As pessoas quando compram obras de arte, parecem que nunca têm ideia de que um dia poderão ter de vendê-las.
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