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Um programa legal

João Carlos Lopes dos Santos



O grande Nelson Rodrigues detestava se afastar do Rio de Janeiro. Sabendo disso, para provocá-lo, os amigos perguntavam:

- "Como é, Nelson, vais à São Paulo ver o Fluminense jogar?" E ele, com sua voz inconfundível, respondia:

- "Depois do Méier, começo a sentir saudades do Brasil".

Para quem não sabe, o Méier é um tradicional bairro da zona norte, que dista cerca de 15 km do Centro do Rio de Janeiro.

Vou defender a tese do Nelson, mesmo discordando dela, afinal, sobre alguma coisa tenho que discordar do gênio, até para conferir razão a ele, quando dizia que ‘toda unanimidade é burra’. Ao contrário do Nelson, se pudesse, viveria viajando, até porque - não tenho dúvidas - o meu carma é administrar as dificuldades que me são impostas pelas circunstâncias já que, por isso ou por aquilo, sempre me impedem de viajar. Mas uma coisa é certa, não morro sem conhecer Portugal, Itália, França e Espanha.


Abrindo os olhos para o Rio Antigo

Sonhos à parte, vamos ao programa legal. Num passado, que já me parece remoto, fiz uma fantástica programação de férias de meio de ano, em julho. Comecei a imaginar quantos estrangeiros se deslocam para conhecer os pontos turísticos do Rio de Janeiro: Corcovado, Pão de Açúcar, Corredor Cultural, Barra da Tijuca (hoje tão completa em entretenimentos) e o Recreio dos Bandeirantes, com seus quase vinte quilômetros impolutos de praias.

Deduzi que, se era bom para os turistas, deveria também ser também para a minha família. Foi o que fizemos, um dia em cada ponto turístico do Rio. E lá estávamos nós, misturados aos japoneses, franceses, italianos, norte-americanos, espanhóis, ouvindo de tudo, menos o português. No que concerne ao passeio ao Corcovado, Pão de Açúcar e os demais pontos turísticos citados, não há porque aqui me alongar, todos conhecem ou imaginam a grandiosidade do passeio.


O espelho da arte no Rio de Janeiro

Gostaria, então, de falar do Corredor Cultural do Rio de Janeiro, um programa que, já naquela época, foi inesquecível. Poucos o conhecem, mesmo os cariocas que passam sempre por lá a trabalho, durante a semana. Localiza-se no Centro, onde se concentram os museus, vários centros culturais, a Biblioteca Nacional, o Arquivo Nacional, o Teatro Municipal, sem que nos esqueçamos do Clube Naval, que vale a pena ser visitado, tendo-se em vista o patrimônio arquitetônico e artístico.

Há também as igrejas católicas que, independentemente da religião de cada um, devem ser vistas por todos que gostam de arte. Todo esse circuito pode ser feito a pé, até durante os dias da semana no horário comercial. É um corredor cultural democrático, pois o Centro é um lugar sem statussocial, posto que todos que por ali transitam, de operários e estudantes a empresários e intelectuais, podem dele usufruir.


Infraestrutura sempre ajuda

Sempre que posso, curto o ‘pedaço’. Morando ou vindo ao Rio de Janeiro, não deixem fazer o circuito cultural completo, pois creio que também vocês farão um passeio inesquecível. Procure na internet o endereço da Riotur. Lá você receberá todas as informações a respeito e, quem sabe, publicações atualizadas.

A propósito, em todas as cidades – do Brasil ou do exterior – por menor que sejam, encontram-se tesouros culturais e artísticos que merecem a sua atenção. Procure pelos órgãos municipais que cuidam do turismo das cidades por vocês visitadas, pois eles sempre têm à disposição informações sobre o roteiro cultural.


Santo de casa não faz milagre

E você, já fez o circuito cultural da sua cidade? A realidade, nua e crua, é que os ‘bichos da terra’, de todas as partes do mundo, não curtem o turismo de suas próprias cidades.

Achei os programas inesquecíveis, porém, nunca mais voltei ao Corcovado e ao Pão de Açúcar. Com toda certeza, a maioria dos parisienses, também, não curtem as belezas da ‘Cidade Luz’ do alto da Torre Eiffel. Quase ninguém dá valor ao que possui.

Conheço vários cariocas que gostam de curtir os feriadões no Rio de Janeiro. Dizem que o Rio, nessas épocas, com a debandada geral, volta ter a tranquilidade dos anos 1960/1970, a cidade fica vazia e a locomoção, estacionamento, cinemas, teatros, restaurantes da moda ficam mais acessíveis.


O mundo bem ali na esquina

De fato, também não vejo muita graça nos deslocamentos dos feriadões, quando muitos se aventuram em viagens de gostos duvidosos - aquelas quando se vai para um perto bem longe, ou seja, quando, para se percorrer uns cento e poucos quilômetros, é preciso enfrentar um engarrafamento de seis horas de estrada, tanto na ida, como na volta. Além disso, acabam virando "programa de índio": banho de mar pela manhã e banhos de repelente para mosquito o resto do dia, posto que de água doce, em muitos lugares, não há adutora que comporte o inchaço dos grandes feriados.

Quem sabe não seria melhor, nessas oportunidades, ficar na sua cidade, seja ela qual for, curtindo o que ela tem de melhor? Mas o que ela teria de melhor? Nós cariocas, quando vamos à sua cidade – São Paulo, por exemplo – achamos um monte de coisas interessantes para fazer.

 

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