Acompanhando o Mercado
O que fazer para evitar falsificações
João Carlos Lopes dos Santos
São raras, mas estão por ai
Tudo que envolve dinheiro é passível de falsificação. Quanto maior a vantagem financeira, maior a incidência. Têm-se notícias de medicamentos falsos, carteiras de identidade falsas, notas falsas de dólar, cartões de crédito falsos, laudos periciais falsos etc. Tudo é passível de ser falsificado e, como não poderia deixar de ser, também há obras de arte falsas.
Em épocas de recessão econômica, que ocasionam crises financeiras e elevam os índices de desemprego, aumenta substancialmente a incidência de todos os tipos de falsificação. Quanto mais grave for a crise, maior será o aparecimento de falsificações, em todos os setores da economia e em todas as partes mundo.
Tapete vermelho
O que mais me irrita quando se fala em falsificação não é nem a contrafação propriamente dita; é a apologia, é o aplauso explícito ou velado, é a fascinação que ela exerce em certas pessoas, é o fato de acharem que se trata de uma falcatrua interessante, engraçada, é a exaltação da desonestidade, do que não presta, do que é errado.
Cheiro de pólvora
Como se detectar falsificações? O irlandês Oscar Wilde (1854-1900), um dos grandes expoentes da literatura da língua inglesa, afirmou, certa feita, que "só o idiota não se deixa guiar pelas aparências." Portanto, as pessoas, antes de comprar obras de arte, têm de desconfiar quando o preço estiver muito abaixo do de mercado. Desconfie também de quadros provenientes de lugares que não têm tradição, ou de quadros que não tenham uma origem comprovada.
Quadro bom é aquele que tem histórico de trajetória, é aquele cujo caminho percorrido se consegue refazer, até se chegar a uma reprodução fotográfica em um convite ou catálogo de uma casa de leilão acreditada, a um registro de uma galeria de arte de prestígio, ou do ateliê do artista.
Contudo, há que se ter o cuidado de observar bem as fotos constantes desses catálogos, já que, com os favores do computador e do scanner, eles podem ser adulterados, com relativa facilidade, fazendo-se o enxerto de fotos de pinturas falsas, tática muito usada pelos pilantras, que costuma levar o incauto à plena convicção da autenticidade da obra.
Não se deixe levar por histórias da carochinha, como, por exemplo, a de que o dono do quadro está precisando de dinheiro vivo com urgência, ou, então, a de que ele não pode aparecer na transação porque tem problemas com o fisco.
Pesquise. Procure saber, também, a origem dos laudos de expertise e dos certificados de origem que, nessas ocasiões, costumam acompanhar os quadros; como é sabido, também há laudos falsos...
Caminhe com segurança
Quem estiver interessado em comprar obras de arte, em qualquer circunstância, deve procurar um profissional de sua inteira confiança para que este o assessore, verificando a idoneidade e a tradição de quem lhe está oferecendo o negócio. Da mesma forma, no tocante ao objeto da transação, ele, com certeza, irá verificar a autenticidade da obra, procedência, estado de conservação e a relação qualidade-preço.
Os marchands, quando experientes, sabem de certos detalhes da atuação dos falsificadores. Isto lhes propicia detectar indícios de falsificação, mesmo quando não conhecem profundamente a obra do artista.
Não se trata, apenas, de iluminar a pintura com uma lâmpada ultravioleta, o que, a rigor, só detecta as restaurações. A coisa é bem mais complexa. A convicção de autenticidade ou não, quase sempre, é totalmente inexplicável. Observando-se dois quadros, um autêntico e outro falso, o que para os leigos pode parecer uma "planície", para o profissional experiente se revela um colossal "abismo".
Para todos os gostos e bolsos
Falsifica-se de tudo, em todos os patamares de preços: já se detectou falsificação de quadros na faixa abaixo dos US$ 300,00!
A falsificação apenas engana os inexperientes. Marchands militantes, com boa formação e larga vivência em mercado, só se deixam enganar quando querem, ou quando se descuidam dos ditames básicos da profissão.
Recomendações importantes
Aos afoitos, aos "anjinhos" e até aos metidos a espertos (aqueles que pensam que estão enganando o outro, mas são eles os enganados) vão aí alguns conselhos para, se não evitar, ao menos minimizar os riscos de se comprar falsificações:
- Se você não conhece bem o conjunto da obra do artista, só compre de um marchand em quem você confia, pela sua competência e a honestidade.
- Se você não conhece bem quem está lhe vendendo, então, só compre obras de arte de artista que você conheça bem.
- Se você não conhece bem o conjunto da obra do artista, tampouco quem está lhe vendendo, por maior e melhor que lhe pareça a oportunidade, não compre.
Diante da menor dúvida, não compre: procure um profissional que o assessore e que lhe mereça confiança; contudo, é fundamental que o assessor entenda, de fato, do conjunto da obra do artista que você está pretendendo comprar.
Acautele-se. Não existe ninguém que entenda de tudo. Aplicado ao mercado de arte, discordo do ditado popular que diz: "Pretensão e água benta não fazem mal a ninguém." No caso do marchand que se diz apto a detectar qualquer tipo de falsificação de pintura - a pretensão pode fazer muito mal ao comprador...
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