Crônicas de Nova Ipanema

O «Dia do Vizinho»: que acha você ?

João Carlos Lopes dos Santos

Realmente, vivemos dias de muita insegurança física e patrimonial. O item segurança está de há muito na ordem do dia. Só se pensa em instalação de câmaras de vídeo, agentes de vigilância, guaritas, guarda-costas, automóveis blindados e outras coisas do gênero.

No entanto, que ninguém conhece o seu vizinho de porta. Pergunto: você conhece os moradores do seu edifício? Reconhece-os no shopping? E aqueles que residem na sua rua?

Tão perto e tão longe

Tenho um amigo que mora num edifício, tipo dois apartamentos por andar, numa daquelas ruas internas e aparentemente tranquilas da Tijuca, aqui no Rio de Janeiro. Um dia, vira-se o meu amigo para sua mulher e pergunta: você tem visto o nosso vizinho de porta? Diante da resposta negativa da mulher – os homens adoram fazer deduções –, comentou: a mulher dele anda triste, abatida. Outro dia, no elevador, entrou muda e saiu calada. Não sei não, mas estou achando que o vizinho abandonou a mulher...

Dias depois, a mulher do meu amigo – as mulheres são muito curiosas – dá retorno ao diálogo: você não sabe da maior, peguei a vizinha aí do lado no elevador e perguntei pelo marido. Você não vai acreditar: o marido dela chamava-se Antenor, morreu de infarto fulminante, há dois meses e meio...

Apartamento rima com isolamento

Histórias como essas acontecem aos milhares nas grandes metrópoles. Vizinhos de porta que não se conhecem. Nos condomínios fechados também acontece. Dou como exemplo o edifício onde moro em Nova Ipanema, na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro. Quem mora nas colunas 01 e 02 de alguns edifícios, dificilmente conhece seus vizinhos das colunas 03 e 04, pois não dividem elevadores, hall social ou de serviço, tampouco o espaço da garagem. Se não frequentarem a área de lazer do condomínio geral ou as assembleias do condomínio, provavelmente, ficarão sem se conhecerem pelo resto de suas vidas.

No edifício onde moro também é assim. A convivência é das melhores, gente da melhor qualidade, mas que não é de andar uns pelas casas dos outros, tampouco têm intimidade para pedir o aspirador de pó emprestado, uma xícara com açúcar, etc. Até os atritos com problemas de cães são mínimos. Existem, mas são mínimos...

Quando viajamos, é ao vizinho de porta que pedimos para dar uma olhadela nos movimentos estranhos em nossa casa. Vizinho de porta é coisa muito importante, é ele que nos socorre na hora de um acidente ou do mal súbito. Nesses momentos, quase sempre estamos sós, longe dos parentes, e é com eles que nos socorremos.

Os nossos vizinhos de porta, agora um casal, ele finlandês, ela brasileira, são excelentes. No Natal, honrando as origens, posto que ‘Papai Noel’ também seja finlandês, ele me presenteou com uma garrafa de vinho. Gente fina é outra coisa... Durante os 33 anos que moramos em Nova Ipanema, tivemos uns nove vizinhos de porta e sempre demos muita sorte. A sensação que se tem é que o apartamento do lado está sempre vazio – duvido que pensem a mesma coisa de nós...

O vizinho anterior era cearense. Antes dele uma família pernambucana, antes, uma família mineira. Os nossos primeiros vizinhos de porta eram cariocas. Até aí me lembro. Por se tratar de um apartamento de aluguel, ficam por pouco tempo, e, invariavelmente, são de outros estados e voltam às suas cidades ou, então, saem para uma residência própria, muitas vezes no próprio condomínio.

Quando o barulho não incomoda

Estive em Santa Maria (RS), a convite, para fazer uma palestra sobre mercado de arte. Minha estada lá coincidiu com a festa do ‘Dia do Vizinho’, que eles comemoram no terceiro domingo de agosto. ‘Dia do Vizinho’, em Santa Maria, é lei, com número, artigos e tudo: Lei Municipal nº 3.300 de 18/1/1991. Diz o artigo 1º – Fica instituído, no âmbito do Município de Santa Maria, o ‘Dia Municipal do Vizinho’.

No terceiro Domingo de Agosto é dia festa. As ruas da cidade são fechadas com fartas mesas de comida e bebida, transformadas em campos de futebol, quadras de voleibol, de peteca, tomam chimarrão – aliás, isso eles fazem todos os dias e o dia todo –, jogam cartas, conversa fora e até fazem uma trégua na "eterna guerra do futebol gaúcho"que os divide em duas facções bélicas: colorados e gremistas. Realmente, há uma total confraternização, como se fosse um dia de Natal comemorado por uma enorme família, o que se reflete até o ‘Dia do Vizinho’ do ano seguinte num fraternal convívio social.

Soube depois que algumas cidades gaúchas como: Júlio de Castilhos, Santiago, São Sepe, Formigueiro, São Pedro do Sul, São Martinho, Itaara, Torres e Caibaté, assim como, Concórdia, em Santa Catarina, festejam o Dia do Vizinho, na mesma data que os Santarienses. Oxalá, essa prática sirva de exemplo para todos os municípios brasileiros.

Vizinho é coisa para se guardar

Penso que conhecer os vizinhos é mais do que um saudável convívio social. Sem dúvida, é um fator de segurança para a comunidade: se todos se conhecem, o estranho é logo percebido e pode ser monitorado. Por outro lado, conhecendo-se os vizinhos, se tem como saber quais deles podem merecer a nossa confiança, de vez que há casos em que o perigo mora ao lado, pois não são raros os casos em que casas ou apartamentos são arrombados pelos próprios vizinhos ou por pessoas que lá chegaram por intermédio deles.

Creio ser muito importante a implantação, em todas as cidades do país, do ‘Dia do Vizinho’, através de lei municipal, de preferência no terceiro domingo de agosto. Que tal a ideia? Será que dá para implantar a data no próximo mês de agosto?

 

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