Crônicas do Cotidiano

Você conhece a AMAN?

João Carlos Lopes dos Santos



Esta crônica ficou adormecida por 10 anos. Tenho outras assim, por isso por aquilo, à espera do momento certo de ir a público.

Estive nas solenidades da declaração de aspirantes da Turma Maestro Carlos Gomes, realizadas em novembro de 2000, na AMAN. Até então, não tinha visitado aquela instituição de ensino superior militar.

Fiquei impactado com que vi e, sinceramente - embora não tenha ainda visitado a Escola Naval e a Escola de Aeronáutica -, não vi nada em termos de ensino superior civil que chegasse próximo do que se testifica naquela escola militar. Tenho certeza de que a grande maioria dos cidadãos não tem a exata dimensão do que seja a Academia Militar das Agulhas Negras.


Ordem, limpeza e eficiência

Inicialmente, gostaria de elogiar todos os Comandantes da AMAN, desde sua fundação até hoje, em se considerando a visão, a edificação, a manutenção e os acréscimos patrimoniais de um projeto absolutamente fundamental para o Exército Brasileiro. Hoje, sei que a AMAN é o alicerce do Exército Brasileiro. Às vezes, é imprescindível lembrar o óbvio. A AMAN dá o padrão de excelência que conhecemos ao Exército Brasileiro.

Saibam que muito raramente entro em um quartel ou em repartições militares. Quando isso acontece, noto de pronto que ali impera a ordem, a limpeza e a eficiência. Não raro, por exemplo, me deparo nos quartéis com jardineiras artesanais, feitas com a reutilização de latas de mantimentos, até dando uma aparência humilde, mas sempre limpas, pintadas, funcionando a contento. É nesse clima de honestidade e de trabalho sério que eu vejo a presença da AMAN. A verba federal, que seria necessária, pode até faltar, mas a honra e a retidão de caráter, lapidadas na AMAN, se fazem sempre presentes.

Decerto, as outras Forças - Marinha e Aeronáutica - dispõem de uma idêntica formação, não haveria razão para que fosse diferente, de vez que não vejo diferença entre os militares das três Forças.


O que faz o ensino de qualidade

Em segundo lugar, gostaria de elogiar a postura, apresentação pessoal, formação cultural e intelectual dos Aspirantes de 2000, o que dá a mim o exato entendimento do que é o ensino ministrado naquela Academia Militar. Vi e ouvi um menino, com pouco mais de vinte anos, dar um show de domínio de público. Falou de improviso, no melhor estilo coloquial, alinhavou e costurou um belíssimo discurso, prendendo a atenção da plateia. Soube terminar antes da hora que seria a certa para os prolixos, deixando no público aquele gosto de ‘quero mais’, para, afinal, ser aplaudido demoradamente, mesmo no contexto da celebração de uma missa. Cabotinamente, costumo dizer que a minha maior virtude é detectar talento, mas, nesse caso, foi muito fácil.


A elite do policiamento

O terceiro elogio vai para a Polícia do Exército. Veio-me à lembrança os meus 18 anos e o fato de 30 dias depois da incorporação, após um curso intensivo para cabos, ter sido promovido ao honroso posto de cabo da PE, onde fiquei por 10 meses e 15 dias. Lembrei-me dos policiamentos especiais, com farda de gala, de que participei no Clube Militar da Av. Rio Branco, no centro do Rio de Janeiro, sob a presidência do general de divisão Magessy, que, à época, era comandante da Primeira Divisão de Infantaria, e sempre homenageava a PE da Vila Militar, exigindo que ela fizesse o policiamento das festas do Clube Militar, na Cinelândia. A emoção me remeteu ainda às festas do Círculo dos Oficiais da Vila Militar e ao seu presidente, o coronel comandante do REI nos idos de 1962, militar na verdadeira acepção da palavra, que tratava os soldados da PE de serviço no clube que presidia com toda atenção, preocupando-se em lhes mandar servir as melhores refeições. Pena que me esqueci do nome dele.


Abraçado à «Lurdinha»

Mas a minha vida militar não foi só farda de gala. Lembrei-me das noites que dormi na calçada da Av. Mirandela, em Nilópolis - um dos municípios vizinhos da cidade do Rio de Janeiro -, abraçado a uma metralhadora INA. 45, participando do controle de um tumulto, quando o povo invadia estabelecimentos comerciais para saquear, coisa comum no início dos anos 60. Recordei-me, ainda, das "batidas" policiais sob o comando do então tenente Paulo Hecht, que investiam contra o banditismo no entorno da Vila Militar carioca. Lembro-me bem do tenente e dos sargentos Jason e Otuki. Eram três militares que merecem a minha lembrança, depois de quase 50 anos, pelo caráter, pela retidão de conduta e pelos exemplos que davam. Tratavam os soldados com respeito que se deve a um filho e deles recebiam, incondicionalmente, admiração e amizade. O verdadeiro comandante, todos sabem, é aquele que irradia uma ascendência natural, recebendo a admiração e a amizade dos comandados.


Bilac tinha razão

Foi Olavo Bilac que levou o Congresso Nacional a instituir o serviço militar obrigatório. Bilac tinha razão. Parnasiano, era poeta, mas tinha os pés firmes no chão, não se deixava levar por ilusões românticas. O serviço militar obrigatório, para ambos os sexos, dá rumo à vida do cidadão. Nota-se que, de uns tempos para cá, os governantes não vêm dando muita atenção ao serviço militar obrigatório, claramente objetivando fazer certa contenção de despesas. Meus dois filhos foram dispensados, por excesso de contingente... Embora sejam cidadãos de bem, às vezes, lastimo não terem feito o serviço militar. O que será melhor? Gastar com um serviço militar obrigatório - que acaba por ser um curso profissionalizante e formador de caráter -, ou construir mais penitenciárias no futuro? O assunto merece uma reflexão dos próximos governantes.

Voltando à visita à AMAN, no meu automóvel havia uma pessoa com problemas de locomoção. Os praças da PE foram extremamente atenciosos, fazendo-me lembrar do treinamento, que recebi nos idos de 1962/63, que nada fica a dever ao treinamento que recebem os policiais do chamado primeiro mundo.

Aqui, paralelos não cabem, mas quando o policial tem uma postura impoluta, reta, acima de qualquer suspeita, o público se comporta de forma irrepreensível, mesmo num baile (e nunca vi tanta gente numa festa...) onde a fartura de bebida - e de comida - foi a tônica, e os convidados, ao sair, ainda levavam uma garrafa de vinho de presente. Grau dez, também, para aqueles que organizaram as solenidades e festividades. Tudo parecia milimetricamente estudado e a execução indefectível.


Menção Honrosa

Por último, em moldes bem militares:

«ELOGIO – INDIVIDUAL – para todos militares, COMANDANTE E COMANDADOS, responsáveis pela organização das Solenidades da Declaração de Aspirantes da Turma Maestro Carlos Gomes, realizadas nos dias 23, 24 e 25 de novembro de 2000, nas dependências da AMAN.

«Cumpre-me louvar o Comando da ACADEMIA MILITAR DAS AGULHAS NEGRAS e seus comandados que participaram da organização das solenidades da declaração de aspirantes da Turma Maestro Carlos Gomes, pelos bons serviços que prestaram à manutenção da excelente imagem que sempre desfrutou o Exército Brasileiro, fazendo com que os presentes, mormente os civis, só tivessem motivos de se orgulhar por existir em nosso país uma instituição de ensino superior como a tradicional AMAN.» Assinado, João Carlos Lopes dos Santos – cidadão brasileiro.

 

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