Crônicas do Cotidiano

O Ovo de Colombo

João Carlos Lopes dos Santos


‘Ovo de Colombo’ é uma expressão popular que se usa para argumentar que qualquer pessoa poderia realizar um determinado feito, se tivesse antes a ideia de executá-lo. O fato gerador, decerto, nos aponta o ‘Descobrimento da América’, em 1492. Numa reunião, diante daqueles que tentavam minimizar o feito do navegador Cristóvão Colombo (Gênova, Itália, 1451 — Valladolid, Espanha, 1506), alegando que qualquer um poderia tê-lo realizado, o genovês desafiou os presentes a colocar um ovo em pé. Ao que parece, sequer tentaram... Então, Colombo amassou suavemente uma das extremidades do ovo e o colocou em pé, argumentando que qualquer pessoa poderia ter realizado o feito, desde que tivesse, antes, a ideia de executá-lo.

Em 1999, muitos profissionais do mercado de arte ficaram impactados com o lançamento do ‘Manual do Mercado de Arte’. Simplesmente, porque constataram, nem todos de imediato, que se tratava de uma mera transcrição do cotidiano dos marchands. Um verdadeiro ‘Ovo de Colombo’, já que todos eles poderiam ter feito o MMA e, muito deles, com mais conhecimento de causa que aquele que o escreveu, se antes tivessem tido a ideia de colocá-la em prática.

Como não existia, o escrevi

A ideia do MMA surgiu em 1995, por ocasião de um convite para que fizesse uma palestra sobre mercado de arte no IV ‘Encontro com as Artes Plásticas’, promovido pela Associação dos Artistas Plásticos de Santa Maria, da cidade universitária gaúcha que lhe empresta o nome. À época, ao receber o convite, percebi que não tínhamos sequer um livro que proporcionasse orientação direta sobre mercado de arte. Como não havia, comecei a elaborar o MMA. Hoje, passados 19 anos e com edição esgotada, dizem que aqui e, ao que se saiba, no resto do mundo, ninguém mais se atreveu em abordar a matéria e o MMA continua como filho único do mercado de arte.

Dois episódios

Reportarei aqui dois episódios ocorridos logo após o lançamento do manual.


Neste primeiro relato, reporto que um jornalista ligado ao mercado de arte, ao receber um exemplar das mãos do autor, visivelmente impactado e pálido, disparou:

_ Por que não pensei nisso antes...

O segundo episódio aconteceu numa galeria de arte, hoje com as atividades encerradas. A mulher de um prestigiado galerista que, por um acaso, estava presente quando fui presenteá-lo com um exemplar do ‘Manual do Mercado de Arte’. Claramente enfurecida, sacudindo o livro, bradou para o marido, que estava mais ao fundo da galeria:

_ Fulano! Você é quem deveria ter escrito este livro!

Quando você tiver um sonho a realizar, de pronto, ponha mãos à obra, evitando, assim, que algum aventureiro dele lance mão. Há um ditado de caráter prático popular que nos ensina: quem chega primeiro à fonte bebe água limpa...

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