Crônicas do Cotidiano

Ilações sobre a criação do cachorro

João Carlos Lopes dos Santos


Embora só em três países lusófonos – Brasil, Cabo-Verde e Guiné –, a palavra cachorro seja sinônimo de cão, os dicionários da língua portuguesa fazem uma distinção entre os dois vocábulos, definindo cachorro como um cão novo, pequeno ou jovem. O dicionário Aurélio, talvez o mais usado no Brasil, define cachorro, na primeira acepção, assim:
1. Cão novo e pequeno.
A segunda, com a ressalva quanto aos países acima:
2. Qualquer cão.

Reza a crença que Deus criou o mundo nos exatos termos constantes do primeiro livro da Bíblia, o Gênesis, aquele que nos fala da criação do mundo. Mas, Ele teria cometido um erro. Depois de ter criado o homem e a mulher, teve a divina ideia de criar o cão, para que fosse o fiel escudeiro do casal. Rapidamente, esboçou aquela criatura de carinha triste, com duas mãos, duas patinhas e um rabo para abanar, para quando estivesse feliz.

Deus teria errado?

No entanto, do alto da sua perfeição, onipotência e onisciência, de pronto, concluiu que tinha que alterar aquele projeto. Inicialmente, pensara que tendo mãos, como as nossas, o cão nos seria muito mais útil. Afinal, aquela criatura se destinava a ser o nosso melhor amigo, haja vista, citando só um exemplo, o que faz o cão-guia para facilitar a inclusão social das pessoas com deficiência visual. Contudo, achou por bem modificar o projeto apenas para dele retirar as duas mãos e, no lugar, colocar duas patinhas, nos moldes das de trás.

Se você acha que Deus cometeu outros erros, está absolutamente errado, posto que, com certeza, Ele fez tudo certinho e o que você entende por erros, decerto, são da nossa exclusiva responsabilidade. Com isso, Ele deu o mundo por concluído e, no sétimo dia, descansou, transformando-o no dia destinado ao repouso.

Fidelidade canina

O que vou lhes reportar, por certo, os levará à lembrança de outros casos semelhantes, que são mais perceptíveis nas pequenas cidades. Falo daquelas em que, num rápido girar de olhos, se consegue ver todos os prédios, a pracinha, a igreja e o cemitério.

Com a morte do dono do cão, após o velório domiciliar, o cortejo fúnebre se arrasta lentamente pelas vielas do lugarejo até chegar ao cemitério. Depois das exéquias, todos retornam às suas casas. No entanto, se realmente o cão tiver elegido aquele mortal como o seu dono, ele viverá lá, sobre a lápide do amigo. Procurará água e comida? Sim, mas após retornará à campa. Mesmo nas grandes metrópoles, exemplifico com o Rio de Janeiro, até a primeira década do século XXI, era comum encontrar vários cães, às vezes magros e maltratados, vivendo nos cemitérios.

Outro dia, me deparei com mais uma notícia a respeito de cães que vivem ao lado de moradores de rua. A internet é pródiga sobre esse tema. Contudo, sugiro que você assista à uma emblemática reportagem clicando no link:
Domingo Espetacular - Cachorro fica por semanas na porta de hospital à espera do dono internado.

Você já está a se perguntar...

Mas por que Deus teria trocado as mãos do cão por patas? A resposta é muito simples. De imediato, Ele concluiu que, se estava a criar o nosso mais fiel amigo, não poderia lhe disponibilizar mãos, eis que, com elas, com certeza, teria como aprender a contar dinheiro.

Conclui-se, portanto, confirmando o que, de há muito, está na boca do povo, que o cão é o melhor amigo do homem, porque não sabe contar dinheiro...

Post Scriptum – Leia e, se gostar, recomende aos amigos uma outra crônica, escrita há muito tempo, clicando sobre o título • «Tobe or not Tobe», eis a questão.

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